terça-feira, outubro 9

Não Existe Gaúcho Homossexual.

"Coojornal - Qual a sua explicação para o veadismo que campeia no Rio Grande?

AB- Não quero falar mal, mas tem entrado muito uruguaio no Rio Grande ultimamente... E é preciso entender que gaúcho marica sempre houve. Tem gaúcho aí sem bigode e de costeleta curta como estribo de anão que nem por isso é veado. Se bem que tá ALI. Marica é marica. Nem todo mundo corta unha com facão. Agora, esse negócio de homossexualismo é frescura. Uma vez um índio velho que eu tava analisando disse que tinha se apaixonado por mim. A tal de transferência. O Freud disse que devia se deixar sempre um revólver carregado à mão para os casos extremos. E o índio velho era macho de três culhões, tchê. Seu perfume era francês: o Chirac depois do cuper. Disse que tava apaixonado por mim. Eu disse "Não tá". Ele disse "Tou". Eu disse "Te fecha". Ele disse "Mas é verdade". Eu disse "Quer parar de falar e prestar atenção na música? Tu tá pisando nos meus pés". Mas um mês depois tava curado. É verdade que insistiu em ficar com três cabelos do meu peito para guardar num livro do Vinicius. Mas hoje tá emprenhando até china de delegado. Não existe gaúcho homossexual. Existe bageense que não deu certo."


Veríssimo, Luís Fernando:  Todas as Histórias do Analista de Bagé. 
Ed.:Objetiva, 2002