terça-feira, setembro 2

TOEFL, ressaca e uma mulher simpática

Em um momento de mania me inscrevi. Depois, ciente, vi que teria que acordar pela manhã praticamente o mesmo horário em que acordava ao longo da semana. Final de semana. Acordar no final de semana como se fosse ao longo da semana. Desafios da vida. Olhei pro espelho e disse "foda-se". Acordei no bendito horário junto com os pássaros e com a Alvorada de róseos dedos. Eu e a ressaca. Café forte, garrafa de água, lápis preto e motivação futura de estar plantando algo para se semear num futuro incalculável. Um futuro imprevisível.

A prova é barbada. Cheguei e escolhi um lugar. Sentei. Entregaram-me dois lápis e uma borracha. Pensei "Mas por que, se eu já tenho?" e, colocando a mão no bolso, logo entendi. Recebi, junto com as 30 pessoas  de cara amassada que nem eu, a folha de respostas. Havia uma mulher simpática na frente de todos, lá no alto, no palco. Ela era muito simpática. Simpática demais para quem tinha acordado cedo num sábado. Seu sorriso tranquilo e sua simpatia me lembraram os dos monitores nas provas de vestibular. O TOEFL é muito fácil. A mulher te ajuda a fazer. Ela chega a projetar a folha de respostas no telão e diz como preenchê-la. (Não a mulher, a folha). Ela explica tudo com sua voz simpática e didática. Questão por questão. O complicado começa quando ela coloca um áudio de várias pessoas falando em uma língua incompreensível. Aquele áudio alto, BEM alto, para todos poderem escutar. E a ressaca latejando.

Vieram as regras, as normas, os "não pode" e os "senão vai ser anulada". Riscar na prova foi bem enfatizado. Certo que teve muita gente que fez isso. Vontade de fazer para ser transgressor. O transgressor chato de ressaca. Depois pediram para nós abrirmos a prova (ela veio lacrada. Até nisso complicam) com a ponta de nossos lápis. Naturalmente, ao fazer isso, acabei riscando a porcaria da prova. Incoerências kafkianas. Levantei a mão e a mulher simpática veio.

- Oi. Eu risquei a prova. (mostrei) Isso faz ela estar anulada?

O sorriso simpático sumiu. Ela olhou a prova, olhou pra mim, pensou no problema moral e na incoerência da regra instituída gerada. Aí fez aquele olhar transgressor e disse:

- Ah, apaga com uma borracha. - e voltou-se o sorriso simpático com uma piscadela.

Gostei dela.

Enquanto Alfred tentava elogiar a jaqueta nova de Jenny (Alfred deveria estar desesperado), eu tentava não perceber o zunido que vinha de minhas orelhas e a dor no pescoço. De repente, o silêncio. Alívio. Marquei a alternativa que deveria ser. Sei lá. Parecia óbvio, como tudo o é quando se está de ressaca. Aí veio o Tim. Maldito Tim. Nerd puxa saco. A professora, em compensação, tinha uma voz sedutora. Arqueologia. Altas metáforas.

Entreguei a prova e almejei a cama. Saí da universidade e parecia que o Sol tinha triplicado seu tamanho. Cuidei ao atravessar a rua olhando pros dois lados, pra cima e pra baixo e esperando os carros pararem depois de 10 segundos que o semáforo fechou. Isso me dava 5 segundos para atravessar uma rua de 2 metros e meio de largura. Pensei nisso e calculei minha velocidade média desprezando o ignorado e inexistente atrito. Minha cabeça estava explodindo e eu só fiquei imaginando como seria meu inglês de ressaca. Talvez eu deva fazer outra vez para comparar o COM ressaca e o SEM ressaca e, depois, colocar em dados estatísticos de ANOVA esperando encontrar o desejado p<0,05.

Não sei bem. Talvez eu pergunte para a professora de Tim.

Matheus I. Mazzochi