Um
caminhoneiro, bem velhinho, estava manobrando seu caminhão cheio de entulhos de
obras na caçamba para sair da Universidade. Para sair, ele deveria manobrá-lo
de uma maneira delicada, pois a largura e a altura do espaço eram bem
estreitas, mas permitindo que o caminhão conseguisse passar mesmo assim. Afinal,
ele entrou por ali. Eram três colunas de sustentação à esquerda e à direita
totalizando seis colunas. Naquele espaço, também, ocorre o trânsito dos funcionários,
estudantes e professores que entram e saem da Universidade com tamanha frequência
em direção à Santa Casa.
A odisséia
começou quando ele manobrou seu caminhão laranja, também velho e vivido, para
sair e notou que não conseguiria, pois havia um carro de um funcionário
impedindo ainda mais o caminho. Da forma como ele fora estacionado, o espaço
para o caminhão passar ficara mais estreito ainda. O suficiente para o caminhão
não conseguir passar e o velhinho coçar a sua cabeça cheia de cabelos brancos.
Ele desligou o
caminhão. Abriu a porta. Saiu. Era tão pequeno que quando abriu a porta para
sair, não o via-se, viam-se suas pequeninas botas pretas tocando o chão. Quando
ele bateu a porta, tinha cerca de 1,50 cm. Ficou parado analisando o problema.
Seus lábios balbuciaram algo. Provavelmente algum comentário espirituoso sobre
a situação. Coçou a cabeça e andou até os pilares. Olhou pra cima, olhou pra
baixo, olhou pros lados. Virou-se até o carro e voltou a olhar para os pilares.
Ficou parado se perguntando o que poderia fazer. Decidiu tomar uma atitude: foi
até o carro, parou do lado dele e deu passos bem largos até o pilar da direita.
Eram duas passadas e mais um meio pé dele. O velhinho já era pequeno, que dirá
suas passadas! Voltou a coçar a cabeça e a resmungar. Olhou pro caminhão e pro
espaço estreito. Seus olhos eram de quem não sabia o que fazer.
Encostado no
caminhão laranja, de braços cruzados, pensou e pensou. Pensou tanto que parecia
que nunca havia pensado na vida. Parecia que fazia algo novo. Deu um tapa na
sua coxa e foi até a portaria falar com alguém. Explicou a situação. Mostrou o
seu tempo. Precisava sair dali o quanto antes. A portaria pediu para um dos
seguranças acompanharem-no. O velhinho não pareceu satisfeito. Não era isso!
O segurança
foi até a cena da ópera e perguntou qual era o problema. O velhinho mostrou de
braços abertos como se abraçasse o ar o que estava acontecendo (Como se fosse
óbvio, apesar de ser!). O segurança perguntou se ele não conseguiria passar por
ali. O velhinho negou. O segurança insistiu. O velhinho, numa tentativa empírica,
demonstrou com suas passadas pequenas que não havia espaço. O segurança
concordou. Os dois voltaram à portaria. O porteiro, o segurança e o velhinho,
voltaram à cena...
O velhinho,
junto com o segurança, explicou o que estava acontecendo. O porteiro perguntou se
ele não conseguiria passar. O velhinho, não acreditando, decidiu mostrar as
passadas novamente. O porteiro concordou. Ele também perguntou de quem era
aquele carro. O velhinho negou com a cabeça. Não sabia. O segurança pegou seu rádio
e mandou chamar alguém. Pediram para o pequeno senhor esperar, pois iriam fazer
algo. Ele disse que tinha um tempo a seguir e os outros dois nada falaram. Deixaram-no
ali esperando.
O pobre
velhinho continuava preocupado com o seu caminhão atravancando o caminho. Em um
gesto de esperança, desespero ou dúvida, talvez, ele voltou a contar os passos
e a comparar com o tamanho do caminhão. Eis que para melhorar a história, surge
uma van. O velhinho dá sinal para voltarem, mas não o obedecem. Param a van atrás
do carro e no caminho da saída e dizem para ele tirar o caminhão dali. O
velhinho explica a situação. Os motoristas saem dela se rindo e falam que
deixarão a van estacionada ali. Ele chega a avisar que já está chegando o dono
do carro. Os motoristas se riem e falam para o velhinho ficar calmo que eles
serão rápidos. Quando saem cada um para fazerem a entrega, escutam-se suas
risadas e seus comentários ridicularizando o velho. Ele coça a cabeça e
suspira.
O segurança e
o porteiro chamaram o motorista do carro que estava na frente da van,
explicaram a situação e o motorista reclamou dizendo que o velho que era o
chato. O segurança e o porteiro concordaram. Chegando lá fora, cumprimentam o
velhinho e o motorista abre a porta do carro. O velhinho pede desculpas pelo
transtorno e avisa que de nada adianta agora, pois os motoristas da van a
estacionaram do outro lado da saída. O carro do motorista ficava entre a van e
o caminhão. O motorista irritou-se e disse que esperaria pouco tempo, pois é um
homem ocupado. O porteiro sumira e o segurança ficara olhando a cena quieto. O
velhinho foi até o porteiro pedir para ele ajuda-lo a procurar os motoristas da
van e este só disse que teriam que esperar. O velhinho coçou sua cabeça e
voltou para seu caminhão velho.
Seu chefe
ligou. Ele atendeu o celular e explicou o que estava acontecendo. Foi xingado
pelo patrão e as pessoas que ficaram ao redor olhando, começavam a rir da
situação e a falar quão enrolada ela era. Cada um dava seu palpite, sua análise,
seu parecer e explicava, resumidamente, para quem chegava atrasado, o que
estava acontecendo.
Eis que os
motoristas chegaram. Entraram na van e tiraram-na. O motorista ocupado do carro
entrou e fez o mesmo. O velhinho imitou, ligou o motor velho. Barulho, fumaça e
desânimo pairaram no ar. Ele manobrou com calma. Girou o volante pra cá e pra lá.
A roda fazia o mesmo. De fato, o lugar era muito estreito e o carro
atrapalhara. Foi indo aos poucos, lentamente. Quando estava quase na saída, uma
das placas de entulho que ele levava atrás do caminhão prendera no último
pilar. Bateu um pouco e tirou um pequeno pedaço dele. Todos que assistiam gritaram
rindo-se para o velhinho parar. Ele desligou o motor, saiu do caminhão, olhou
pra cena, colocou as mãos na cabeça e suspirou.
No meio das
risadas, o segurança falou a alguém:
- Ta vendo...(bufou)...Óbvio
que tinha que ser o velhinho.
Matheus I. Mazzochi