quinta-feira, janeiro 24

A Sociedade da Maneira que Ela quer.



Cresci com a ideia social de que devemos deixar um legado. Nossa contribuição para a sociedade pode vir de três formas: plantar uma árvore, ter filhos ou escrever um livro. Pois bem. Eu plantei uma árvore, eu tive um filho e eu escrevi um livro. O problema é que ninguém me disse que a sociedade pode não retribuir: derrubaram a árvore para construir um shopping Center com cinema 4D, meu filho foi morto por um playboy ao defender seus ideais e o filhinho de papai foi inocentado por ser filho do vereador mais votado da cidade. Com a indignação decidi escrever um livro contando o processo judicial para que todos soubessem da corrupção e do jogo de interesses que é a justiça nacional, mas, obviamente, ele não vendeu. Meu editor disse que livros assim não vendem. Que eu deveria procurar escrever um romance pornô ou algo fofo para os adolescentes de hoje. Filhos de caras como o vereador. Gente que contribui para a sociedade. Da maneira que ela quer.

Matheus I. Mazzochi

sábado, janeiro 12

A Mulher


Esta é a mulher
Que qualquer
Homem deseja

Me excita
Me evita
Não me beija

Esta mulher
Que a qualquer
Homem enlouquece

Eu a desejo
Quero um beijo
Peço em prece

Esta é a mulher
Por qual qualquer
Homem mataria

Eu a venero
Eu a quero
Todo dia

Esta mulher
Que qualquer
Homem tem apreço

Não me quis
Sou mais feliz
Com quem mereço

Esta nova mulher
Que qualquer
Homem desprezaria

É quem faz minha calma
Fundiu-se à minh’alma
É mais linda poesia


Bruno W. Bopp

10h55min

Acordei com meu irmão de pé na minha cama tentando pegar a pá do ventilador ligado.
- Cara, não faz isso. Tu vai te machucar.
Levantei-me um pouco e consegui tirar ele dali. Dormíamos num beliche: eu em cima; ele embaixo. Olhei para  a janela e caiu um raio. Notei que a grade da sacada estava aberta com a chave para o lado de fora. A luz do raio azul iluminou um vulto preto. Levantei-me. Abri mais ainda a porta e vi um pessoa de camisa branca e calça jeans azul.
- Quê tu tá fazendo aqui, vagabundo?
- Não é o que tu ta pensando, cara. Eu posso explicar.
- Tu pode explicar? Explicar é o caralho, some daqui.
- Mas eu tenho um bom motivo!
- SOME!
E empurrei ele com um chute que o fez cair no chão. Desci o prédio (estava no primeiro andar) e achei-o estatelado no chão da rua.
- Agora me explica o que tu tava fazendo lá em cima,cara.
- Eu tava limpando, meu.
- Limpando?
- É. Sou limpador de cercas elétricas.
Olhei pros lados e vi um carro verde com dois cachorros estampados. Carro de petshop, pensei.
- Tu acha que me engana, vagabundo?
Comecei a chutar ele e a soqueá-lo. O homem pedia para parar e parar e eu continuava e continuava. Pessoas começaram a se aglomerar.
- Chamem a polícia! - gritei.
O cara estava deitado no chão e eu não parava de soquear seu rosto. Parecia um retrato sendo quebrado de tantas rachaduras que estavam sendo formadas envoltas ao sangue. A cada pancada, seu rosto se desfragmentava mais e mais. Estava morto.
- Vem, vamos para dentro - disse alguém que me puxava em direção a minha casa.
- Não! Eu preciso falar com a policia e dizer o que aconteceu!
- Não aconteceu nada. Vem, vamos ao supermercado.
- Não! Eu tenho que dizer o que estava acontecendo. Eu matei aquele homem.
- Ninguém morreu. Tu não fez nada. Vem. Anda.
A polícia já estava no local com três viaturas colhendo informações das testemunhas do local. Várias pessoas. A rua toda. Parecia uma passeata ou  o carnaval de Sergipe.
Entrei em casa e logo vi que não era a minha casa. Muitos amigos e conhecidos estavam lá. Havia também pessoas de uniformes pretos como os da antiga SS. Começaram a gritar e a nos dar ordens que o pessoal obedecia temerosa e respeitosamente.
- Vão tomar banho agora! - disse um oficial da SS. - Vocês tem... - começou a mexer em seu relógio de prata - 5 minutos. VÃO!
Entrei no chuveiro, o qual se localizava no meio da sala em frente às pessoas - e comecei a tomar banho. A água estava estupidamente fria. Eu tremia. Não tinha sabonete, era um tijolo. Coisa doida demais. Sai do banho em 3 minutos. Estava tremendo, mas satisfeito. Parecia ter tomando um bom banho. Olhei para o lado e tinha um gigantesco espelho cheio de bijuterias, pulseiras, pentes e coisas do tipo. Fiquei ali procurando um pente para me pentear. Chegou uma menina.
- Vem, anda, a gente vai se atrasar! - disse me puxando um dos braços.
- Não, peraí. Eu preciso de um pente para poder ligar para a policia.
- Não precisa disso,cara.
Peguei um pente depois de escolher entre muitos tipos.
- Pronto, agora só ligar para a polícia - falei.
- Não. Pega esse aqui - a menina me ofereceu o mesmo pente que eu havia pegado.
- Mas eu peguei esse. Olha. -  mostrei
- Não. Pega esse aqui.
- Mas...
- Pega esse aqui.
Peguei e me penteei.
- Agora vamos, senão vamos nos atrasar.
- Peraí. Vou ligar para a polícia. - eu disse.
Tentei ligar para a polícia e nada. Havia um cara no computador que gentilmente me deixou ver na internet o número para se ligar. Tentei a polícia civil e militar. Nada.
- Tenta ligar para a policia brigadiana - ele me disse.
- Brigadiana?
- É. Vê se dá. Tu tentou a militar e  a civil. A brigadiana vai dar.
Tentei. Não deu.
- Vamos! - disse a menina.
Corremos para um corredor e havia uma longa escada. Como se fosse a tal escadaria para o céu. Muitas pessoas subiam nela aceleradamente. Como se fossem os carros de uma avenida filmada em tempo acelerado. Muitas pessoas estavam para subir também. A menina estava já na escada e disse:
- Tu vais querer que eu compre aquilo pra ti no supermercado?
Todos acharam um mimo e me olharam.
- Eu vou contigo.
Segui ela e depois de um tempo lhe disse:
- Olha, foi a gota d'água. Não vai dar mais. Acabou.
- Sério mesmo?
- É. Depois do que houve lá embaixo... Eu vou seguir meu caminho e ligar pra policia brigadiana.
Ela sumiu.
Eu estava no quarto onde tudo havia começado e vi pela janela pessoas sendo esquartejadas. Parecia uma guerra civil africana. Facões, sacolas pretas, paus e pedras. Dois homens arrastavam um senhor de idade morto. Escutei alguém me chamar.
- Vamos jantar?
Fomos jantar e estavam todos lá. Parecia um show de 50 mil pessoas.
- Eu preciso ligar para  a policia brigadiana. - repetia.
- Depois, vamos jantar e comer! - disse um guri.
Todos se deram as mãos se preparando para rezar.
- Reze para nós - um mulher disse olhando para mim.
- Tá. Legal. Peraí que eu vou pegar a Bíblia.
Entrei num quarto e fechei a porta. Liguei para o 180.
- 180 qual o seu problema? - uma voz fanha atendeu.
- Eu preciso de uma viatura na rua General Neto 234...
- Qual a rua, senhor?
- Não... quer saber... eu matei uma pessoa onte-ontem.
- O senhor matou uma pessoa onte-ontem?
- É. Eu sou um assassino e preciso me confessar.
- Iremos enviar uma viatura para a sua residência já,já. Obrigado por ligar. Por favor, não fuja.
- Legal. Valeu.
Ele desligara. Ao sair estava numa sacada toda iluminada por estrelas. Tinha um cara de branco ao meu lado direito.
- Ei,cara, eu sou um astrólogo - me disse.
- Eu sei. E eu sou um assassino.
- Ligou para a polícia brigadiana?
- Me confessei pro 180 e agora vou esperar eles chegarem. Deixa eu te mostrar uma coisa.
E apontei para as estrelas e mostrei a constelação de escorpião na frente dele. Ele duvidou e disse não ser. Insisti dando os nomes das estrelas: alfa antares, beta acrab, delta Dschubba.
- Não é isso. Tu tem que ir ao supermercado,cara. - disse ele fumando um cigarro.
Do nada começa a ventar e passa um disco voador sobre nossas cabeças!
- CARALHO, TU VIU AQUILO!?
- O quê?
- Aquilo que passou! Que demais!
- Não vai me dizer que aquilo era um disco voador, né? Era uma banheira,cara.
- Que merda é essa?
- Vai por mim. Eu sou astrólogo. Eu sou astrólogo. Vocês precisam acreditar em mim, eu sou astrólogo e conheço história do princípio ao fim.
Dizendo isso olhei pra dentro da sala e vi um gordo passando pela porta. Ele portava uma arma e dizia que iria me matar. Peguei uma antena antiga de televisão e furei a bochecha dele. Ele continuou ali. Furei os peitos, furei  a barriga, furei todo ele. Nada. Nem se mexia. Peguei a arma do meu bolso e ele sumiu como mágica.
Sai de casa correndo e encontrei um colega de faculdade.
- Como vão as férias?
- Eu matei um cara.
- Legal, eu vou ali na lancheria, quer ir junto?
Sai correndo achando uma loucura tudo isso. O céu era amarelo com estrelas vermelhas que derretiam parecendo sangue. Na frente da minha casa estacionou uma viatura verde. Saíram três homens e uma mulher. A mulher era a única a usar um uniforme da Marinha.
- Eu matei o cara. Quero me confessar!
- Vamos com calma, filho. Tu que nos chamou? - perguntou o policial com uma de suas mãos segurando o rádio preso em seu ombro.
- Não sei como vocês organizam e catalogam os crimes, os registros, mas eu cometi o crime de onte-ontem nesse exato local!
- Cara, tu não fez nada - disse um deles.
- Eu preciso dar o meu depoimento.
Ficaram me olhando e pediram para eu falar.
- Eu acordei com o meu irmão de pé querendo pegar as hélices do ventilador de teto. Com medo de que ele se machucasse, tirei ele dali e o coloquei na cama. Dormimos num beliche, sabe? Eu em cima. Quando voltei para a cama, vi no clarão do raio um vulto na sacada. A grade tava aberta com a chave para fora. Sai para ver quem era e achei ele me olhando. Senti medo e perguntei o que ele estava fazendo. Só que fui agressivo com as palavras. Empurrei ele e desci. Ele me disse estar limpando as cercas elétricas do prédio. Queria me explicar uma coisa. Não acreditei, pois tinha um carro de petshop verde do lado do prédio. Deveria ter algo relacionado a limpar cercas elétricas,né? Brigamos e comecei a soquear ele.
- Filho, não houve nada. Tu não matou ninguém.
- É. Foi legítima defesa. - disse outro.
- NÃO FOI! Ele nunca me agrediu. Eu que matei ele!
- Fique calmo, não aconteceu isso. Ele brigou com a mulher e com a amante.
- É. -disse outro.
- Não! Não! Eu tava lá. Eu lembro bem, senhor! Eu matei aquele cara.
- Ele empurrou a mulher dele e matou ela. Aí se atirou e se matou. A amante fez o mesmo arrependida. O senhor não tem nada a ver.
- Eu matei ele, porra! Chequem o sangue em minhas mãos! Todo mundo viu!
- Tu ta sonhando...
- É verdade! Eu lembro bem! Gritamos, soqueamos, tem sangue ali na rua!
- Tu é inocente. Vamos embora pessoal.
- Tchê, fica tranquilo que tu não matou ninguém. Tu sonhou com isso. - disse o outro.
- FOI REAL!
Ele se virou e colocou a mão em meu ombro.
- Cara, tu ta sonhando. É melhor acordar.

*

Abro os olhos e são 10h55min.


Matheus I. Mazzochi

quinta-feira, janeiro 10

Então, acabou!
Foram dois semestres vividos
Como quem antes nunca os tinha vistos.
Fiz trabalhos e cumpri horários.
Muita coisa escutei
E não acreditei...
Cheguei até a duvidar.
E da dúvida, muita coisa escutei.
Maldito ciclo.
Sempre voltando, mas é a real.

Entreguei muitas folhas.
Dei satisfação.
(Pra quem merecia e pra quem não).
Assim como ouvi muitas.

Fui xingado e xinguei.
Mandei à merda muita gente.
E depois, lá as encontrei.
"Mas olha só! E aí? Como é que tá?"
É a vida.

Sorri muito um sorriso sincero.
Às vezes, um sorriso amarelo
Esperando o mundo acabar.
(E não acabou!)
Dá pra acreditar?


Matheus I. Mazzochi


quinta-feira, janeiro 3

No Silêncio da Noite

Silêncio.
Ouça.
.
..
...
Teus pensamentos falam.
Escute-os. Sinta-os.
O que dizem? O que sussurram? O que querem?
Ouça.
Deixe-os se manifestarem.
A folha em branco.
A Rima. A Rima.
A Borracha.
É ela quem apaga e faz ressurgir a folha em branco.
Uma nova chance. Um recomeço.
A oportunidade de apagar e de esquecer o que se fez.
Ou o que se quer esquecer.
Mas vire a página.
O que vês?
Outra folha em branco.
Nova fase.
É a vida.

*

No que o Pensador pensa? Será que ele sabe?
E se quando achar a resposta, ele se levantar e sair do museu?
O Pensador é uma pedra que se movimenta em pensamentos.
Vou perguntar para ele o que sou. Sim! Perguntarei a uma pedra o que sou.
E quando ela responder, deixarei de ser eu mesmo
E tornar-me-ei algo que não será mais eu.
É a vida.

*

Ouça!
Já deixou teus pensamentos tomarem conta de ti?
Possuírem-te? Puxarem-te às profundezas do mar como as almas mortas puxaram os herois gregos no mar de Aqueronte?
Um pássaro agoniza lá longe em algum lugar.
Olho para o céu e vejo as Três Marias formarem a base de uma pirâmide.
É uma loucura.
O silêncio da noite faz isso.
Poder ser perigoso
Ou não.
É a vida.

*

Cadê a borracha?


                                No Silêncio da Noite, Porto Alegre,
                                           27 de Novembro de 2012
                                                 01h31min