sexta-feira, fevereiro 22

As Incríveis Histórias da Odisseia Kung Fu - Parte II


           Então estava decidido: ele iria começar uma jornada aos confins da mente e da alma humana em busca de se conhecer melhor e de conviver melhor consigo mesmo. Ele ia praticar o Kung Fu. Porém, especialmente para ele, o Kung Fu só era Kung Fu pelas séries televisivas. Aquela clássica história do rapaz mauricinho da cidade grande que pouco sabe sobre a arte e sobre a filosofia e logo quer usá-la. Exatamente: usá-la. Para bater em outras pessoas, claro. Mal sabia ele que é assim que ele irá apanhar. Falando de uma forma Kung Fu.
              Pegou suas coisas. Juntou tudo o que podia. Achou quinquilharias embaixo da cama que nem sabia que existiam. Esquecidas pelo passado. Esquecidas pelo pó no qual ele dormia. Abriu o armário, coçou o cabelo, mordeu o lábio:

                - O que levar...? – sussurrou para ele mesmo.

              Livros na estante, caderno para fazer notas, sapatos, gravatas, chinelo de dedo. Tanta coisa para levar em tão pouco espaço. Incerteza. Dúvida. Mudanças geram isso. Ou arrumar a mala. Geralmente se arruma a mala em alguma mudança e algumas mudanças nos fazem arrumar a mala. O china continuava sério de olhos fechados. Talvez estivesse olhando para ele, mas de uma forma tão poderosa que não podia ser real. Ele estava de olhos fechados. Digo, quem consegue olhar para uma pessoa sem abrir os olhos? Talvez ele estivesse sentindo ele. Sim. O china estava sentindo a presença dele no mesmo cômodo, convivendo com sua insegurança e sua dúvida numa completa simbiose. Um só em dois corpos. Talvez seja essa umas das ideias do Kung Fu.

                Depois de muito esperar pacientemente, o china interrompeu a bagunça mental do seu amigo:

                - Leve apenas o que precisares – disse ele na mesma posição meditativa na cama.

                - Mas como eu sei o que eu irei precisar num lugar onde não conheço e nunca fui?

                - O que conseguires carregar consigo será o necessário.

                Parecia uma boa resposta. Daquelas profundas dos livros e dos filmes, porém não fazia o maior sentido para ele. Pensou mais um pouco (desde que o chinês batera em sua porta, ele andava pensando além de sua cota normal diária). Decidiu só levar suas roupas.

                - O resto eu consigo no meio do caminho – disse após terminar de fechar a mala.

                O chinês abriu um leve sorriso.

                - Então vamos.


Matheus I. Mazzochi

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