Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate;
I am the captain of my soul.
William E. Henley - Book of Verses - 1875
"Quero antes o lirismo dos loucos, o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados. O lirismo dos clowns de Shakespeare. - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação." - Poética - Manuel Bandeira
segunda-feira, janeiro 23
sexta-feira, janeiro 20
A resposta que todos querem ouvir.
O dia começou tenso.
Todos estavam preocupados se iria ocorrer corretamente como planejado ou não. Todos... Sem exceção. Os homens entraram no carro e botaram o cinto. Pareciam cavaleiros colocando o cinto que prendia suas espadas em suas costas. O motorista colocou a chave na ignição com a mão direita e olhou o relógio que estava na mão esquerda. Estavam atrasados. Aceleraram o bastante para chegarem rápido sem atropelar alguém ou infringir alguma lei de trânsito.
- Eu vou matar todo mundo. Menos tu, pois é o que trabalha. Preciso de ti.
O motor desligou, as portas bateram, os cintos foram abertos. Na rua, os dois homens surgiram do carro. Um deles fez uma concha com as mãos e delas saiu uma luz:
- Quer um cigarro?
- Também preciso.
- Por isso levo comigo. – ele falava com os olhos semi-abertos pela fumaça e com a boca torta, pois segurava o cigarro com os lábios. – Para dias como esse.
- Todos nós precisamos de um escape.
Houve concordância com o balançar da cabeça. Ficaram ali fora fumando. Apesar de estarem atrasados, ainda não era a hora.
*
Em plena escuridão, a sala não podia ser vista. Com o acostumar dos olhos, os vultos negros podiam ser identificados pela forma do corpo do companheiro. Uma luz fraca vinha de algum lugar que permitia essa visualização. Em sussurros, os homens tomaram uma decisão.
- Nada ainda? – sussurrou um.
A cabeça negou.
Silêncio. O vulto da cabeça aumentou prum lado só. Ele havia virado ela para a direita para pensar melhor. Sua mão fez um sinal para o outro aproximar a orelha.
- Se estiver na hora, faça.
O ouvinte se afastou surpreso. Não acreditara. A mão do outro voltou a pedir aproximação.
- Entendeu?
- Sim...
Se abraçaram. O sinal fora dado.
- É tudo contigo, agora.
A primeira coisa que ele fez ao sair da sala foi pensar e refletir em como fazer tal tarefa, em como cumpri-la. Lá fora, escorou-se no muro, colocou um dos pés nele e uma mão no bolso. Como James Dean. Acendeu um cigarro, fungou, e ficou em silêncio enquanto a fumava o envolvia.
Numa situação como aquela, um homem em silêncio pode ter a resposta que todos querem ouvir.
Matheus I. Mazzochi
quinta-feira, janeiro 19
Tem um problema com os escritores...
"Tem um problema com os escritores. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu um montão de cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu um número razoável de cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu muito poucas cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor nunca foi publicado e o cara não tem dinheiro suficiente para publicá-lo por si mesmo, aí é que ele se acha de fato um grande escritor. Mas a verdade é que há muito pouca grandeza. Quase inexistente. Invisível. Pode estar certo de que os piores escritores são os que têm mais autoconfiança e se põem menos em dúvida. De qualquer jeito, é melhor evitar os escritores; é o que sempre tentei fazer, mas é quase impossível. Eles sonham com uma espécie de irmandade, de união. Nada disso tem coisa alguma a ver com escrever, nada disso ajuda na máquina."
Henry Chinaski
Charles Bukowski - Mulheres - 1978
Henry Chinaski
Charles Bukowski - Mulheres - 1978
Eu te chamo.
- Consegue fazer isso aí sozinha?
- Consigo, pode deixar.
- Deixa só eu te ajudar nisso aqui... Deu. Agora deve ficar mais fácil.
- É, ficou mesmo. Obrigada.
- Qualquer coisa, me chama que eu venho correndo pra te ajudar, ta bom?
- Ta. Eu te amo.
- O quê?
- Eu disse que te chamo. Qualquer coisa, eu te chamo.
Matheus I. Mazzochi
sábado, janeiro 7
38,5º
Eu estava delirando. Não. Acho que já seria mais propício dizer que estava alucinando. Deitado em meu colchão, não conseguia dormir pela enorme dor de cabeça. Era pior que ressaca. Havia uma broca na minha região temporal e parietal. Parecia que, com uma furadeira, ela entrava e saía. Conseguia sentir a ressonância e a reverberação das ondas sonoras por todo meu neurocrânio. A dor era demais.
Suando, com o ventilador de teto ligado, eu ficava, ora colocando, ora tirando o lençol de cima de meu corpo. Eu precisava diminuir a temperatura corporal, senão poderia morrer. Ao tirar, passando dois minutos, sentia frio e me arrepiava. Cobria-me novamente e voltava a suar. Era um horror. Meu cérebro estava derretendo. Meus olhos doíam. Parecia que alguém estava apertando eles na região superior, precionando-os, querendo afundá-los no meu crânio. Só de imaginar isso, já sentia mais dor...
Estava tonto e completamente fora de si. Não podia pensar em nada que minha imaginação saía da minha cabeça e ia me cumprimentar como o Chaves fazia ao sair do barril. Olhava para um lado virando minha cabeça e a cena continuava mesmo ela estando parada. Parecia que tudo estava em câmera lenta. Vinham como uma onda e depois voltavam. Olhei para uma medalha que estava pendurada em uma das prateleiras e ela estava balançando. Ia para um lado e para o outro como um pêndulo. Parecia que havia uma corrente de ar que a impulsionava para fazer tais oscilações. A janela estava fechada. Todas as janelas estavam fechadas.
Estava muito abafado. Eu lá, num quarto completamente abafado, delirando –alucinando- com 38,5 º de febre.
Olhei para a parede que estava em meus pés (estava deitado de barriga para cima). Bem, olhei para baixo, então... Enfim, eu olhei para um quadro dos Beatles. Estavam eles lá, em preto e branco, olhando para o lado direito, todos eles, com um sorriso de canto de lábio. Fiquei olhando e me perguntando o porquê que eles estavam sorrindo. A imagem fazia os lábios se mexerem. Eles realmente estavam rindo de alguma coisa. Fechei meus olhos e consegui escutar a risada de um deles. Ao abrir, eles estavam na janela ao meu lado olhando para fora. Continuavam seguindo a postura da foto: juntos, sorrindo. Fiquei me perguntando o que diabos eles estariam vendo. Estavam grudados, preenchendo o mesmo espaço no meu quarto. Apoiaram suas mãos na mesa embaixo da janela, para poderem inclinar suas narinas para cima e olhar para baixo com seus olhos. Com as narinas cada vez mais apontadas para cima e seus olhos cada vez mais olhando para baixo, seus calcanhares saíram do chão e ficaram na ponta dos dedos como uma dançarina de balé procurando algo nas ruas. Curiosos e sempre juntos como se fossem um corpo só com quatro cabeças e vários braços e pernas, os garotos de Liverpool apontaram seus narizes para baixo e começaram a olhar para cima. Ficaram corcundas. Estavam procurando algo no céu...
- “Acho que estou a vendo brilhando...” – disse um.
De tanto que seus olhos apontavam para cima e suas narinas para baixo, eles começaram a se dividir ao meio, como um processo de meiose, como um zíper ao abrir. Os olhos foram olhando para cima e as narinas indo mais para baixo. Estavam se rasgando. A região entre o nariz e os olhos gerou uma fissura que se abriu. Os dois pólos (olho e nariz) se abriram como um zíper ficando mais distantes e circulares, as pontas formavam circunferências entre elas como uma antena de inseto. Quando vi melhor, na minha frente havia quatro insetos procurando algo no céu. Eles começaram a cantar “I am the Walrus” para mim.
- “I’m the eggman…The are the eggman… I am the Walrus!”
Sério…
Eu precisava de outro Tylenol.
Matheus I. Mazzochi
quinta-feira, janeiro 5
segunda-feira, janeiro 2
As Armas e os Barões Assinalados...
- Já leu “Os Lusíadas”?
- Já.
- E aí? O que tu achou?
- Ah...eu achei bonita a história e tal, mas não consegui entender bem ao lê-la. É uma leitura difícil, podemos dizer assim.
- É verdade.
- Por quê?
- Acreditas que eu cheguei a decorar o início?
- Tu não tinhas o que fazer, né?
- É verdade! Eu fui o único a gostar do livro em minha turma. Achei bonita a história. Linda, para dizer a verdade.
- E por tê-la achada linda pensou: “Hm, vou decorar o início e sair aí declamando, afinal, ele é lindo!”?
- Não foi assim.
- É sério que tu decorou aquele caminhão de doze versos?
- Eu decorei só a primeira estrofe e a terceira... E eram oito versos, ta? Doze era a musicalidade, a métrica. Alexandrinos, os mais lindos e difíceis de serem feitos.
- Difíceis? Foram feitos por um ciclope.
- É, ele perdeu um olho, sim, mas não perdeu o título de ser excelente!
- Ele foi bom no tempo dele, temos que admitir.
- Bom é meu vô, Camões é excelente!
- Ah, que exagero...
- “As armas e os barões assinalados/ Que da ocidental praia Lusitana/ Por mares nunca d’antes navegados/ Passaram ainda além da Taprobana/ Em perigos e guerras esforçados/ Mais do que prometia a força humana/ E entre gente remota edificaram/ Novo Reino, que tanto sublimaram...”
- Tu decorou isso?
- Calma, tem mais a terceira estrofe!
- Ah, tem mais a terceira estrofe...
- É a mais linda!
- Então tenho que ouvi-la... Por favor, declame-a...
- Tu gosta de tirar sarro, mas escuta só: “ Cessem do sábio Grego e do Troiano/ As navegações grandes que fizeram...”
- Uuuh...
- “Cale-se de Alexandro e de Trajano/ A fama das vitórias que tiveram! / Que eu canto o peito ilustre Lusitano/ A quem Netuno e Marte obedeceram/ Cesse tudo o que a Musa antiga canta/ Que outro valor mais alto se alevanta!” Olha isso, cara! É um ufanismo lindo! É perfeito! A cadência, o ritmo, as rimas, o nexo... Bah!
- Nenhum ufanismo pode ser dito como lindo...
- Ah, eu acho lindo.
- E tu decorou tudo isso pra quê? Achava lindo, só?
- Aham.
- Tu era virgem, né?
- Hein?
- Sério, pode me contar. Pode te abrir pra mim...
- Eu achei lindo mesmo. Eu tava lendo o livro sem a intenção de decorá-lo até que eu fui ao médico. Conversando com ele, ele me declamou o início.
- O médico?
- Aham. Ele disse:
.............................................................................................................................................
- Ah, mas Os Lusíadas é uma obra bem complexa e difícil.
- É pro vestibular.
- Guri, eu te falo, mesmo lendo livros pro vestibular, tente lê-los com vontade. Nada supera uma boa leitura.
- Nada?
- Ta, nada não. Só uma boa... né?
- Ah!
- Mas mesmo assim. Têm algumas que serviram até de inspiração para ótimas obras!
- Entendo.
- Eu tive que ler Os Lusíadas também. Achei um saco!
- É mesmo?
- Sim! Algo horrível para se dar a jovens de 15, 16 anos. Meu deus do céu! O que tinham na cabeça aquelas pessoas? Nos davam cada tarefa.... Eu tive que decorar algumas estrofes no meu tempo!
- Decorar?
- Sim, decorar. “As armas e os barões assinalados/ Que da ocidental praia Lusitana/ Por mares nunca d’antes navegados” Era assim que começava o estorvo...
- Nossa.
- “ Cessem do sábio Grego e do Troiano/ As navegações grandes que fizeram / Cale-se de Alexandro e de Trajano/ A fama das vitórias que tiveram! / Que eu canto o peito ilustre Lusitano/ A quem Netuno e Marte obedeceram/ Cesse tudo o que a Musa antiga canta/ Que outro valor mais alto se alevanta!”
- Tu declamas muito bem. Fiquei com vontade de ler até!
- Ah! Não me faça rir! É muito bonito se tu for parar para ler mesmo o que ele fala, entende? Foi uma maneira para engrandecer as navegações portuguesas, a história de Portugal. Nada, ele diz, nada se compara à história Lusitana. Eu disse nada! Nem os Gregos! Por isso o “Cessem do sábio Grego e do Troiano”.
- E Alexandre e Trajano?
- Trajano foi um exímio imperador romano que conquistou muitas terras. Alexandre foi o “Alexandre, o Grande”, que dispensa explicações, né?
- Sim.
- E ele nos manda calar a boca para ouvirmos as histórias Lusitanas, as quais são mais dignas e mais esplêndidas! Olha o nível!
.............................................................................................................................................
- Que médico diferente.
- Ele me fez parar de ler o canto IV e voltar desde o começo. Mudou minha vida.
- Ele curou o que tu tinhas?
- Ele me fez entender Camões, cara.
- E tu saia declamando o inicio pelo colégio?
- Cheguei pra professora no dia da prova:
.............................................................................................................................................
-Sora!
- Diga, meu querido.
- “ Cessem do sábio Grego e do Troiano/ As navegações grandes que fizeram / Cale-se de Alexandro e de Trajano/ A fama das vitórias que tiveram! / Que eu canto o peito ilustre Lusitano/ A quem Netuno e Marte obedeceram/ Cesse tudo o que a Musa antiga canta/ Que outro valor mais alto se alevanta!”
.............................................................................................................................................
- E ela?
.............................................................................................................................................
- Meeeeu Deeeus... O que foi que eu fiz, Jesus?
.............................................................................................................................................
- Bah! Que broxante! Deveria ter sido uma excelente professora...
- Não era.
domingo, janeiro 1
Sonho de uma Noite de Verão
Lá estava eu no velho oeste vendo a fumava elevar-se do chão toda vez que as pessoas passavam caminhando e as rodas das carroças passavam rodando. Todos de roupas típicas. Voltei-me à esquerda e tinha um amigo meu apoiado num galpão onde se vendiam livros infantis. Perguntou-me se eu queria o novo livro que contava a história de três cachorros. Olhei a capa e vi três cachorros que tinham lã em seus corpos ao invés de pelos. Perguntei quanto custava e ele me disse que custava vinte reais divididos por quatro. Tirei uma nota de dez reais e ele me deu cinco de troco.
Entrei no Saloon e sentei na classe escolar que estava na minha frente. A aula havia começado e a professora estava cobrando a tarefa de Português. Uma lista com definições do que eram Artigos, Pronomes, Adjuntos, Substantivos, etc. Vi que a classe não era minha, tinha um estojo rosa aberto e uma folha de prescrição médica. Levantei-me e fui conversar com meus amigos no outro lado da sala. Planejávamos o trabalho que deveríamos ter feito. Um deles disse que seria uma boa idéia ir lá ao fundão e se atirar no chão deslizando; outros, que seria perigoso. Dera-me o dinheiro do livro e fomos nos sentar, pois haveria prova. Na prova, tínhamos que colocar nosso nome, nosso tipo sanguíneo, nosso email e nossa senha de email. Indaguei a professora dizendo que não poderíamos colocar nossa senha. Perguntei se era a senha com números e letras ou só colocar asterisco, asterisco. A professora sem rosto me disse que era para colocar a senha e circulou o tópico que pedia isso na folha. Discuti com ela dizendo que isso era quebra de privacidade e me levantei. Pedi licença e sai da sala. Atravessei quatro colunas que estavam na minha frente em ziguezague e fui ao guichê reclamar. Apesar de ter furado a fila, a mulher me disse que não era ali que se faziam reclamações. Era no outro guichê. Fui ao outro onde tinha uma fila enorme. Entrei na fila atrás de duas senhoras e um senhor que não deu preferência a elas.
Quando atravessei a porta para entrar no guichê para reclamar, recebi uma arma e um capacete. Coloquei o capacete e segurei a arma para seguir em frente e ver um campo completamente denso e inclinado. Desci as coxilhas pela noite e me agachei para conseguir passar entre as moitas. Corremos de um lado para o outro fugindo dos tiros que os postos de sentinelas atiravam. “Eu só queria saber se era certo colocar a senha ou não!” Um amigo meu disse. Corremos e vimos que duas pessoas nos viram e estavam vindo em nossa direção com lanternas e armas. Zunidos de tiros eram escutados e o chão sempre acabava sendo esburacado pelas balas que passavam perto de nós. Nos pegaram e nos questionaram. Um deles era meu avô e ficou feliz em nos ver. Perguntamos se era certo o que a professora cobrou e ele, sorridente com seu bigode, disse que nos ensinaria os segredos do Kung Fu. Aprendi a usar o Nin-Cha-Ku. Cheguei perto dele e de mais dois amigos. Cumprimentamos-nos ao estilo Oriental abaixando nossas cabeças e eu acordei.
Matheus I. Mazzochi
Assinar:
Postagens (Atom)