Outro dia com chuva.
Embaixo de seu guarda-chuva, o trabalhador pensava em seus problemas. Ele visualizava em sua mente as suas tarefas pendentes e criava hipóteses para resolvê-las. Sua neurose tomava conta de seu ser. Quando o estímulo era forte o suficiente, chegava a verbalizar. Falava sozinho nas ruas molhadas e tristes da cidade. Sentia-se o penado. Estava com uma culpa misturada com angustia e indignação com a vida. Seus pés molhados pelas poças d'água ficavam gelados e o frio fincava em seu osso. Sentia-se merecedor desse frio e dessa dor. Estava triste. A vida perdera sua importância.
Passa um ônibus. Levanta a onda fria da água acumulada na calçada. Agora suas pernas e parte de seu peito estão molhados. Parecia o fim das contas.
Uma mão quente pousa sobre seu ombro e uma voz amigável é ouvida:
- E aí, meu companheiro! Será que chove?
Riem da situação. O homem desconhecido estava sem guarda-chuva e completamente ensopado. Com sorriso sincero e olhos brilhando, o desconhecido aperta o passo para não se molhar mais e, com a pasta sobre sua cabeça protegendo-o, atravessa a rua e some por entre a multidão de pessoas que vagam pelo centro da cidade.
- Será que chove? Meu deus, estava caindo o mundo e o homem me pergunta isso. Que humor. Que ironia. Que palhaço.
Começa a rir sozinho. Escancara os lábios e o sorriso branco ilumina seu caminho. Começa a sentir algo quente por dentro que o faz esquecer dos pés frios e gélidos.
- Será que chove? Acho que não, tem poucas nuvens no céu.
Agora fala sozinho, só que não reclamando da vida, mas rindo dela. Reflete sobre o que acontecera.
Ele reclamando da vida e acontece isso. O que fez aquele ser humano agir daquela maneira? O que o motivou a fazer aquilo? Como é a vida dele? Ele realmente existiu?
E refletindo sobre a aparição do desconhecido e sobre o efeito que ele fez em si, começa a crer que Deus ou anjos não são aquelas representações físicas e carnais que aprendemos por aí, eles podem existir e estar em qualquer lugar.
Os deuses e os anjos somos nós.
Matheus I. Mazzochi
"Quero antes o lirismo dos loucos, o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados. O lirismo dos clowns de Shakespeare. - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação." - Poética - Manuel Bandeira
segunda-feira, abril 30
quarta-feira, abril 25
Yo No Creo en Brujas Pero que Las Hay...
Foi apenas um final de semana chuvoso. E foi nele que algo estranho aconteceu. Sabem quando a rotina fica a mesma e que prever a rotina já faz parte da rotina? Em momentos assim, acreditem, as coisas podem mudar.
Como começamos, foi apenas em um final de semana chuvoso de um dia qualquer, em um ano qualquer, que aconteceu algo paranormal em um lugar qualquer. Era um prédio de mais de cem anos que tinha três andares: no primeiro, havia a sala de recepção na frente com a cozinha atrás após um longo corredor; no segundo, havia um salão para reuniões formais; e no terceiro, havia uma bela sala que expunha obras de artes (havia muitas pinturas nela). Eram esses os três andares do prédio.
Estava chovendo muito, porém não tanto para fazer com que as árvores se curvassem perante a onipotência das nuvens cinzas da tempestade.
Um grupo de homens havia se encontrado na sala de reuniões do segundo andar e exerciam nela os seus deveres. O barulho das portas batendo pelo vento mostrava que uma grande tempestade poderia se formar. Decidiram, então, agilizar suas tarefas para, o quanto antes, voltarem para suas casas. Até que os barulhos de portas batendo começaram a incomodar e a ficarem perceptíveis no campo sensorial. Decidiram sair do salão para fechar todas elas ou para ver se alguém entrara no prédio (um ladrão, por exemplo).Entretanto, todos não poderiam sair da sala sem terminar suas tarefas. Era assim que funcionava. Um levantou-se e decidiu averiguar em nome de todos. Houve consenso.
- Fulano, venha comigo, por favor. - o forasteiro pedira.
Os dois rapazes saíram da sala para averiguar o que estava acontecendo no prédio vazio. Subiram ao terceiro e mais belo andar do prédio. Na escada, decidiram parar, pois escutaram passos.
- Escutou isso? - perguntara o segundo.
- São passos.
- Tem mais alguém aqui no prédio?
O que eles escutaram, foram passos ecoados. Como se terminassem de caminhar e ainda continuasse o som a se propagar. Quando cessou, continuaram a subir as escadas até o terceiro andar e viram que a porta do salão de artes estava fechada. Uma linha de luz saía por baixo da porta.
- Deve ter gente aí.
- Estranho, não nos avisaram de nada.
- Bate e vê. - sugeriu ele.
Bateram na porta. Nada.
- Que estranho.
Bateram mais uma vez. Nada.
Um deles olhou na fechadura da porta. Vira a sala vazia, porém toda iluminada. Decidiram entrar. Abriram a porta e entraram.
De fato, não havia ninguém na sala. Todas as luzes estavam acessas. Apagaram elas e decidiram descer as escadas até o primeiro andar.
- Alguém deve ter se confundido e vindo pra cá sem saber que estaríamos no segundo andar. - teorizou um.
- Pode ser. Vamos perguntar pra eles.
No caminho para o primeiro andar, voltaram a ouvir barulhos de portas batendo com força, mas todas estavam fechadas...
Chegando no primeiro andar, eles foram direto para a cozinha, onde não havia nada de estranho lá. Dali, seguiram pelo longo corredor até chegar no salão de recepção. A porta do salão estava entre aberta com um feixe de luz saindo dela. Acharam estranho, pois ninguém ficava ali, ainda mais quando só o grupo deles estava no prédio. Os dois rapazes se olharam e decidiram entrar na sala. Abriram a porta e viram, novamente, todas as luzes acessas sem nenhum presente.
- Que estranho. - suspirou um.
- Vamos subir pro segundo andar e falar com os outros.
Decidido isso, subiram ao segundo andar para voltar e contar as novidades. Quando deixaram a sala com as luzes já apagadas, escutaram barulhos ritmados de metais se batendo. Como se fosse goteira de metal. Deixaram estar e continuaram a subir as escadas até o segundo andar.
Chegando no segundo andar, antes de voltarem a entrar na sala, notaram que o corredor das escadas que levava para o terceiro andar estava iluminado. Mas as luzes haviam sido apagadas. Foram até eles e não encontraram ninguém lá. Apagaram as luzes e decidiram voltar à sala de reuniões.
Na sala de reuniões:
- E então? - um perguntou.
- Não tinha ninguém. Fechamos as janelas e todas as portas.
- Ótimo.
- Alguns dos senhores foram lá pro terceiro andar? - um perguntou.
Os oito homens que ficaram na sala se olharam. Um respondeu:
- Eu afirmo ter sido o último, pois fui eu quem apagou as luzes em função de temer que a goteira pudesse gerar um curto-circuito.
- E fechou a porta? - perguntou outro.
- Claro. Sabia que ela ia bater se a deixasse aberta. Por quê?
Não responderam.
- E alguém foi ao primeiro andar na sala de recepção?
Agora, a pergunta fora estranha. Ninguém ia naquela sala há meses. Trocaram olhares e responderam baixos "nãos".
- Então esqueçam...
A reunião seguiu-se tranquilamente, quando, no final dela, ao saírem, os dez homens notaram que todas as luzes do prédio estavam acessas e que ninguém havia entrado ou saído, pois a gigantesca porta de ferro não havia sido destrancada desde o início do dia. Todas as janelas estavam fechadas e as poucas portas que tinham, foram fechadas à chave. Os barulhos de portas batendo continuaram. Após apagarem todas as luzes, novamente, saíram do prédio e um deles afirma ter ouvido um sussurro na saída.
Foi apenas um final de semana chuvoso de um dia qualquer, em um ano qualquer, que aconteceu algo paranormal em um lugar qualquer.
Matheus I. Mazzochi
Como começamos, foi apenas em um final de semana chuvoso de um dia qualquer, em um ano qualquer, que aconteceu algo paranormal em um lugar qualquer. Era um prédio de mais de cem anos que tinha três andares: no primeiro, havia a sala de recepção na frente com a cozinha atrás após um longo corredor; no segundo, havia um salão para reuniões formais; e no terceiro, havia uma bela sala que expunha obras de artes (havia muitas pinturas nela). Eram esses os três andares do prédio.
Estava chovendo muito, porém não tanto para fazer com que as árvores se curvassem perante a onipotência das nuvens cinzas da tempestade.
Um grupo de homens havia se encontrado na sala de reuniões do segundo andar e exerciam nela os seus deveres. O barulho das portas batendo pelo vento mostrava que uma grande tempestade poderia se formar. Decidiram, então, agilizar suas tarefas para, o quanto antes, voltarem para suas casas. Até que os barulhos de portas batendo começaram a incomodar e a ficarem perceptíveis no campo sensorial. Decidiram sair do salão para fechar todas elas ou para ver se alguém entrara no prédio (um ladrão, por exemplo).Entretanto, todos não poderiam sair da sala sem terminar suas tarefas. Era assim que funcionava. Um levantou-se e decidiu averiguar em nome de todos. Houve consenso.
- Fulano, venha comigo, por favor. - o forasteiro pedira.
Os dois rapazes saíram da sala para averiguar o que estava acontecendo no prédio vazio. Subiram ao terceiro e mais belo andar do prédio. Na escada, decidiram parar, pois escutaram passos.
- Escutou isso? - perguntara o segundo.
- São passos.
- Tem mais alguém aqui no prédio?
O que eles escutaram, foram passos ecoados. Como se terminassem de caminhar e ainda continuasse o som a se propagar. Quando cessou, continuaram a subir as escadas até o terceiro andar e viram que a porta do salão de artes estava fechada. Uma linha de luz saía por baixo da porta.
- Deve ter gente aí.
- Estranho, não nos avisaram de nada.
- Bate e vê. - sugeriu ele.
Bateram na porta. Nada.
- Que estranho.
Bateram mais uma vez. Nada.
Um deles olhou na fechadura da porta. Vira a sala vazia, porém toda iluminada. Decidiram entrar. Abriram a porta e entraram.
De fato, não havia ninguém na sala. Todas as luzes estavam acessas. Apagaram elas e decidiram descer as escadas até o primeiro andar.
- Alguém deve ter se confundido e vindo pra cá sem saber que estaríamos no segundo andar. - teorizou um.
- Pode ser. Vamos perguntar pra eles.
No caminho para o primeiro andar, voltaram a ouvir barulhos de portas batendo com força, mas todas estavam fechadas...
Chegando no primeiro andar, eles foram direto para a cozinha, onde não havia nada de estranho lá. Dali, seguiram pelo longo corredor até chegar no salão de recepção. A porta do salão estava entre aberta com um feixe de luz saindo dela. Acharam estranho, pois ninguém ficava ali, ainda mais quando só o grupo deles estava no prédio. Os dois rapazes se olharam e decidiram entrar na sala. Abriram a porta e viram, novamente, todas as luzes acessas sem nenhum presente.
- Que estranho. - suspirou um.
- Vamos subir pro segundo andar e falar com os outros.
Decidido isso, subiram ao segundo andar para voltar e contar as novidades. Quando deixaram a sala com as luzes já apagadas, escutaram barulhos ritmados de metais se batendo. Como se fosse goteira de metal. Deixaram estar e continuaram a subir as escadas até o segundo andar.
Chegando no segundo andar, antes de voltarem a entrar na sala, notaram que o corredor das escadas que levava para o terceiro andar estava iluminado. Mas as luzes haviam sido apagadas. Foram até eles e não encontraram ninguém lá. Apagaram as luzes e decidiram voltar à sala de reuniões.
Na sala de reuniões:
- E então? - um perguntou.
- Não tinha ninguém. Fechamos as janelas e todas as portas.
- Ótimo.
- Alguns dos senhores foram lá pro terceiro andar? - um perguntou.
Os oito homens que ficaram na sala se olharam. Um respondeu:
- Eu afirmo ter sido o último, pois fui eu quem apagou as luzes em função de temer que a goteira pudesse gerar um curto-circuito.
- E fechou a porta? - perguntou outro.
- Claro. Sabia que ela ia bater se a deixasse aberta. Por quê?
Não responderam.
- E alguém foi ao primeiro andar na sala de recepção?
Agora, a pergunta fora estranha. Ninguém ia naquela sala há meses. Trocaram olhares e responderam baixos "nãos".
- Então esqueçam...
A reunião seguiu-se tranquilamente, quando, no final dela, ao saírem, os dez homens notaram que todas as luzes do prédio estavam acessas e que ninguém havia entrado ou saído, pois a gigantesca porta de ferro não havia sido destrancada desde o início do dia. Todas as janelas estavam fechadas e as poucas portas que tinham, foram fechadas à chave. Os barulhos de portas batendo continuaram. Após apagarem todas as luzes, novamente, saíram do prédio e um deles afirma ter ouvido um sussurro na saída.
Foi apenas um final de semana chuvoso de um dia qualquer, em um ano qualquer, que aconteceu algo paranormal em um lugar qualquer.
Matheus I. Mazzochi
quarta-feira, abril 18
Apenas um Acerto de Contas
Ele ia encontra-lo no bordel. É lá onde os cães covardes se escondiam toda vez que faziam alguma merda. Sentiam-se carentes, inferiores e tristes. Iam revigorar algo que eles criam se chamar "força" ou "dignidade". Filhos da puta de trinta e poucos anos chorando no colo das cortesãs que eles pagavam. Ele sabia que o encontraria lá. Era por isso que estava indo.
O sol tingia seu rosto diagonalmente. À passos firmes e rápidos, caminhava em direção ao bordel da cidade. O único e previsível bordel da cidade. Chegou na porta, entrou.
- O que pensa que está fazendo aqui? - perguntou um homem que se levantara da cadeira onde estava sentado.
Ele permanecera quieto, parado na porta do bordel olhando para os lados como se estivesse procurando alguém.
- Eu tô falando contigo, não tá me ouvindo? - insistiu o homem.
Ele respondeu:
- Não vim falar contigo.
Silêncio.
Um assobio ecoou. Um homem surge do segundo andar caminhando lentamente.
- Não acredito que teve a cara de pau de aparecer por cá. - disse.
Ele ficou parado, ainda na porta, olhando para o homem.
- Pois bem... - continuou - Aposto que veio tirar satisfações comigo. Estou certo?
Silêncio.
- Não sou homem de tirar satisfações. - finalmente retruca.
O rapaz do segundo andar começa a descer as escadas cuidadosamente até parar no primeiro degrau. Com uma de suas mãos apoiada no corrimão, da um tapa no chapéu com a outra:
- Se me permitir corrigir, não e homem e ponto.
Alguns que estavam sentados assistindo levantaram-se bruscamente e saíram do salão principal do bordel. Os dois ficaram estáticos no mesmo lugar acompanhando a debandada.
- Eu sabia que te encontraria por aqui. Covardes assim andam em bando. - disse.
- Cuidado. Teu amigo morreu por falar demais.
Um tiro perfura sua cabeça. O sangue esparramado no chão parece ter sido atirado por um balde. Os primeiros degraus da escada foram tingidos. Um homem encontrava-se estatelado na escada do Hall de entrada do bordel.
- É... Fiquei sabendo...Um tiro na testa sempre resolve.
Fora apenas um acerto de contas.
Matheus I. Mazzochi
O sol tingia seu rosto diagonalmente. À passos firmes e rápidos, caminhava em direção ao bordel da cidade. O único e previsível bordel da cidade. Chegou na porta, entrou.
- O que pensa que está fazendo aqui? - perguntou um homem que se levantara da cadeira onde estava sentado.
Ele permanecera quieto, parado na porta do bordel olhando para os lados como se estivesse procurando alguém.
- Eu tô falando contigo, não tá me ouvindo? - insistiu o homem.
Ele respondeu:
- Não vim falar contigo.
Silêncio.
Um assobio ecoou. Um homem surge do segundo andar caminhando lentamente.
- Não acredito que teve a cara de pau de aparecer por cá. - disse.
Ele ficou parado, ainda na porta, olhando para o homem.
- Pois bem... - continuou - Aposto que veio tirar satisfações comigo. Estou certo?
Silêncio.
- Não sou homem de tirar satisfações. - finalmente retruca.
O rapaz do segundo andar começa a descer as escadas cuidadosamente até parar no primeiro degrau. Com uma de suas mãos apoiada no corrimão, da um tapa no chapéu com a outra:
- Se me permitir corrigir, não e homem e ponto.
Alguns que estavam sentados assistindo levantaram-se bruscamente e saíram do salão principal do bordel. Os dois ficaram estáticos no mesmo lugar acompanhando a debandada.
- Eu sabia que te encontraria por aqui. Covardes assim andam em bando. - disse.
- Cuidado. Teu amigo morreu por falar demais.
Um tiro perfura sua cabeça. O sangue esparramado no chão parece ter sido atirado por um balde. Os primeiros degraus da escada foram tingidos. Um homem encontrava-se estatelado na escada do Hall de entrada do bordel.
- É... Fiquei sabendo...Um tiro na testa sempre resolve.
Fora apenas um acerto de contas.
Matheus I. Mazzochi
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