terça-feira, dezembro 11

As Incríveis Histórias da Odisseia Kung Fu - Parte I

                Era um dia chuvoso como aquele que nunca acaba. Era como aquele que não dava vontade de olhar para a janela e ver o cinza dos céus e seu reflexo na água. Estava tão nublado e chuvoso que mal consigo lembrar da data. O que importa é que foi nesse dia em que ele recebera a visita de um forasteiro que batera em sua porta de madeira. O homem estava encharcado e precisava de ajuda. Ele ficara surpreso, mas o ajudou, claro! Apresentou os chinelos, a toalha e deixou as coisas do estranho no local mais quente da casa: a sua cama. Ofereceu-lhe um chá quente para a alma. O estranho aceitou sem abrir seus olhos. Estava com muito frio para tanto, talvez. A água fora aquecida e as folhas das plantas que se banhavam de sol, quando ele aparecia, na janela, ficaram boiando como mulheres tomando banho de sol sobre uma cama inflável na água. Feito o chá, os dois começaram a tomar em silêncio.
               O estranho ainda não abrira os olhos. Deveria estar com muito frio ou não queria que a fumaça quente entrasse neles. Após os primeiros goles, alma quente e peito aquecido, o estranho agradecera a gentileza e dissera vir de muito longe para falar com ele. 
                Surpresa. 
                O anfitrião perguntara o motivo. O estranho homem tomou um gole do chá como se não estivesse ouvido. Calmamente descansou a xícara e pressionou seus lábios, lambendo o que restara do chá.

                - Sou discípulo de um respeitoso mestre Kung Fu à procura de uma pessoa boa o bastante.

                A-há! Então ele era chinês! Por isso não abria os olhos! Pensou ele sem demonstrar sua fútil preocupação.

                - Passei por portas que jamais conseguiria calcular quantas de tantas que foram, mas apenas uma deu-me abrigo.
                Mal sabia o china que ele abrira a porta para reclamar das batidas, pois haviam acordado do sono gostoso que só existe quando chove.

                - Meus agradecimentos. – levemente elevou a xícara de chá, como se fosse fazer um brinde à atitude do rapaz.
                Ele sorriu um sorriso amarelo. 

             O chinês terminou de tomar o chá e perguntou se o rapaz gostaria de embarcar em uma viagem que mudaria sua vida. Ele achou uma boa, visto que estava tudo na mesma merda. O china quase abriu um de seus olhos.
                - Então eu vou lhe contar o que deverás fazer.

              E como se todo o peso do mundo caísse sobre seus ombros, ele olhara por cima dos ombros do chinês para a cama que estava atrás e pensara que aquele fora o último cochilo monótono de sua vida.

Matheus I. Mazzochi

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