segunda-feira, setembro 12

A gente tenta...

Após longas quatro horas de viagens feitas pelas estradas do Rio Grande do Sul, de Passo Fundo até Porto Alegre, os seis amigos estavam de volta ao lar. O motorista decidiu, como último dever, deixar cada um em frente a suas casas. Foi largando, pacientemente e calorosamente, com um sorriso no rosto, um amigo de cada vez, como se já fosse parte de um ritual. Faltava um só. Dialogaram sobre inúmeros assuntos em comum, dialogaram sobre a ordem e o caos presente nela num todo, mas, no final, decidiram dialogar sobre algo muito mais importante e mais universal que possa existir entre a humanidade: a mulher.
Chegaram em frente a casa do último companheiro.

(...)
            - Meu irmão, muito obrigado pelos momentos divididos contigo.
 Disse o último, ao ser entregue em casa, apertando fortemente a mão de seu amigo que os guiou, seguramente, até seus destinos.
            - Oh, que isso, meu irmão. Eu que agradeço pela oportunidade de dividi-los contigo.
Abraçaram-se no carro. Após o abraço, voltaram a se olhar.
            - Agora, como vais fazer? Vais sair com a guria?
A indagação veio acompanhada de uma levantada de leve na sobrancelha esquerda.
            - É o que eu pretendia.
Risadas.
            - Tu terás, mesmo, de esperar até ele chegar para ir buscá-lo?
            - Ah, cara, - ele baixou sua cabeça entre o volante como quem recebesse um aviso horrível, ou uma lembrança que queria esquecer. - nem me fala...
Suspirou.
Silêncio entre eles.
            - Bah, só às oito horas...
Um sorriso sádico estava presente no rosto.
            - Ah, velho!
Riram de novo da situação. Era familiar para os dois, mesmo sendo presente só para um naquele momento.
            - Ah, aí tu aproveita e solta uma trova: “desculpa a demora, é que eu tive que fazer um favor. Pegar um amigo meu em Viamão para levá-lo para a casa... ele não tinha como voltar.” Aí ela vai te dizer: “Oh, que amigão!” e tu respondes, todo tímido: “Ah, a gente tenta.” Deu! Acabou. Ela vai te chamar de fofinho. Vai por mim. Sempre dá certo.
            O motorista escutava atentamente com um sorriso de canto de lábio no rosto. Estava refletindo. Enfim, a opinião:
            - Tu sabes que não é má idéia, cara?
            - Claro que eu sei... Sempre dá certo.
Riram-se de novo.
Reinou o silêncio temporário até ser quebrado:
            - Velho, tu é um exemplo de irmão mesmo...
Ele escutou o elogio de olhos baixos, tímidos, olhando para o chão.
Novamente, reinou o silêncio.
            - Ah, a gente tenta.
            - Oh, que fofinho!
As risadas foram escutadas por todo o bairro.

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