terça-feira, setembro 13

Nova Poética

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco
        [muito bem engomada, e na primeira esquina
        [passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a
                                [calça de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as
                     [virgens cem por cento e as amadas que
                                    [envelheceram sem maldade.

                                                           19 de Maio de 1949

Manuel Bandeira

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