Eram bons tempos.
Bons tempos são sempre os que nós olhamos para trás e vemos que passaram e que não voltam mais. Aí bate a tal da saudade com algum gosto de arrependimento. Como um tempero. Às vezes, vem mais tempero que comida. Aquela sensação de "porra! Quero de novo.", mas já diziam que não tem como cruzar o mesmo rio duas vezes e que não importa o quão bom, inteligente, talentoso ou rico possas ser, não tem como cruzar o mesmo rio duas vezes... e voltar ao tempo e matar a saudade.
Graças ao Universo que podemos escrever.
Podemos escrever e no processo de escrita lembrar como era. Como era ver aquilo tudo, como era sentir aquilo tudo, como era adiantar a saudade futura ao olhar para trás e esquecer de vivenciar o presente já nostálgico. No processo de escrita criamos, claro... Senão as coisas poderiam ser mais chatas (ou até melhores escritas, em alguns casos), mas isso é muito subjetivo. O ponto que quero chegar é que no processo de escrita lembramos. Aí, sim! Eis o perigo. Lembramos das imagens e dos sentimentos. Eles voltam. Surgem não sei de onde no âmago de nossas entranhas e no opaco de nossas almas e, como abrindo uma persiana, abrem nosso tórax e saem diante de nós. Lembranças e emoções. É uma terapia. Só que de graça e pode ser feita em casa de chinelos de dedo, bermuda e uma boa bebida. Se pra ti uma boa bebida é uma água mineral, então é uma água mineral uma boa bebida. Sem preconceitos ou avaliações. Chega disso.
Pelo menos aqui.
Além de lembrar, tem-se a tal da liberdade. Precisa-se de mais que essa mera postagem para discutir se ela existe hoje ou se precisamos buscá-la. Vou ser breve, pois não estou com muito tempo (a tal da liberdade de novo...), mas a liberdade de escrita, a licença poética em dizer "foda-se" aos dogmas gramaticais, ao congelamento da expressão humana, ao modismo. Não quero ser visto como um anarquista gramatical. Bem, agora soou interessante, melhor deixar quieto e sub entendido. Gosto de sub entendimentos. Se é que me sub entendem...
Bem, sobre a tal liberdade... Ia escrever uma excelente lembrança que me veio de um grande momento que provavelmente voltarei a escrever de uma forma mais narrativa. É que quando comecei o processo de escrever, veio tanta coisa, tantos pensamentos, que não teve como não colocar no papel. E ando cansado de não escrever e de colocar frases ou textos de outros caras, outros autores que sabiam escrever. Pelo menos eu acho. Talvez eles estivessem se enganando, mas quem sou eu para julgar isso? Eram homens que devemos lembrar de igual forma. Pois tentaram. Como diria Ele: e lembremos dos velhos cães que sabiam brigar... Brigavam consigo mesmo.
Afinal, pelo menos, diante de uma folha em branco, eles eram livres para sonhar e criar.
E eu acho que criar pode ser algo muito saudável para o ser humano. Algo transcendental, até fraternal. Pois creio, quando criamos, colocamos um pouco de nós na criação. É a dedicação, o sacrifício e o carinho. Talvez tenha mais alguma coisa que não me vem à mente, mas deve ter. É aquela sensação de imortalidade e de ter espalhado algo. Pode ser algo bom ou ruim, mas foi espalhado. Gerou algo. E esse algo nada mais é que a negação do egoísmo lírico do "isso é meu e não vou dividir com mais ninguém", mas mal sabemos que podemos estar impedindo que alguém leia esse texto, por exemplo, e pense criticamente sobre. Se goste ou repudie. Isso, já seria uma contribuição humana e lírica à existência nossa na Terra.
Devemos tentar abrir mão de algumas coisas, tentar praticar a liberdade. Pois assim, com a liberdade lírica e incondicional, capaz de até nos redescobrirmos e acabarmos nos conhecendo melhor.
Como eu falei, é uma terapia. Uma boa terapia. E o processo de escrever em si só já propicia um momento de reflexão e de lembranças.
Bem, agora, se me derem licença, vou reler tudo e ver como eu cheguei a esse ponto, para me entender, me conhecer e sentir, novamente, aquela sensação extasiante que senti quando o vento fresco da janela bateu no meu rosto e, com os pés descalços ao chão, lembrei de um grande momento que me fez escrever e dividir isso com quem leu esse texto.
Axé.
Matheus I. Mazzochi
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