Em meio ao turbilhão das ruas, em meio à rotina incansável da modernidade humana, ele consegue encontrar um tempo entre as Camélias e os seus odores doces para ler e meditar. Em plena meditação, inúmeros pensamentos e sensações emergem. Respira fundo, relaxa e se alivia de tanto estresse.
Abre um livro.
No pequeno espaço de tempo criado pela seu esforço em manter a sanidade mental, lê Hamlet. Tantas questões em sua mente, tantos questionamentos, tantas incertezas, tudo resume-se em Hamlet. Está no V ato. Cena I. Dois coveiros conversam sobre a melhor das respostas. "Quem constroi mais forte que o pedreiro, o engenheiro e o carpinteiro?", é a pergunta que nunca irá findar. Ele, absorto, hipnotizado, concentrado e esquecido do mundo ao seu redor para de ler. Fecha o livro. Antes de continuar fica refletindo. "Quem seria?". Pensa, pensa, pensa... "A fé? O amor?". Depois de minutos, decide continuar sua leitura: o coveiro. A eternidade em pequenas páginas escritas em plena idade média. E durando até hoje... Questões humanas ultrapassadas, porém atuais em nossas vidas tão diferente das antigas. Será mesmo? Hamlet entra em cena com Horácio. Conversam sobre a finitude do ser, sobre os ossos e a identificação desses. "Dizem que enlouqueceu de maneira muito estranha", "estranha como?" - pergunta Hamlet - "Parece que perdeu o juízo.", "E qual foi a razão?" - pergunta novamente - "Achar que não tinha razão."
Essa vida louca que vivemos. Vida sem razão e na busca dela, enlouquecemos. Talvez, sim; talvez não. Hamlet pega um crânio e pergunta quem era. O coveiro diz ser Yorick, o bobo do Rei. Onde estão as piadas agora, Yorick? Estás sorrindo para nós, mas não escutamos suas gargalhadas. Estás mais engraçado agora morto do que vivo? Suas piadas estão mais vivas quando morto do que quando estavas vivo? Pobre homem, fraco de alma e sem nenhum espírito de humor... Hamlet larga o crânio, pergunta a Horácio se as cinzas de Alexandre, o grande, são reconhecidas tanto quanto são as dos "outros" homens. Óbvio que não são. Alexandre, o grande, também apodreceu, também fedeu no leito de morte, também virou osso, puro osso. Um crânio irreconhecível em meio a tantos. Eis essa a finitude e o destino de qualquer homem ou mulher?
E pensar que tem muito morto apodrecido andando vivo por aí... Seja político ou não. E isso desde os tempos de Shakespeare. Em plena reflexão sobre sua existência e sobre si, decide fechar o livro. É tempo. Tempo de voltar à realidade moderna. Cumprir horas, compromissos, promessas.
Vida moderna, vida corrida.
Vida moderna, vida mal vivida.
Olha o relógio. É tempo. Puxa a mochila às costas e cantarola em meio aos doces aromas das Camélias brancas de Alexandre Dumas Filho "Blowin in the Wind".
"How many roads must a man walk down, before you call him a man?"
E eis que a resposta vive soprando no vento que balança as folhas e as flores das camélias. Balança tudo. Agitando os galhos dessa infinita Árvore da Vida.
Matheus I. Mazzochi
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