Em um barzinho numa cidade muito longe de onde vivemos...
Albert Einstein estava sentado matando sua sede e fumando seu cachimbo. De pernas cruzadas, elegantemente, escrevia suas reflexões e seus devaneios. Queria que queria terminar sua mais nova teoria:
- Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada. Hm... Faz sentido.
Leva seu copo de cachaça até a boca. Forte, exatamente como ele gosta. Batendo o copo na mesa, faz a sua caricata careta.
- Alô! – Eis que chega Sir Isaac Newton. – O que está fazendo, Al?
- Matando o tempo...
Newton ajeita-se na cadeira e vira-se acenando sorridente para o garçom. O garçom fecha os olhos e sorri em sinal de já saber o que ele quer.
- O tempo é uma ilusão produzida pelos nossos estados de consciência, à medida que caminhamos através da duração eterna. – diz.
Einstein fuma seu cachimbo fitando-o, pensativo, até retrucar sorridente e satisfeito:
- A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. Se minha Teoria da Relatividade estiver correta, - e diz isso com o bucal do cachimbo para Newton - a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estiver, a França dirá que sou alemão e os alemães dirão que sou judeu.
O whisky chega. Newton, com uma risada quicada e com o copo sendo levado a boca responde fitando o amigo:
- Eu consigo calcular o movimento dos corpos celestiais, mas não a loucura das pessoas.
E bebe um gole.
O garçom aparece com seu pano para limpar a mesa. Nesse momento, Einstein dá mais uma pitada em seu cachimbo, e Newton abre as pernas e cruza seus braços para poder relaxar. O silêncio preenchia o espaço. O garçom estava terminando e, sabiamente, pediu licença para falar:
- Com todo o respeito e não querendo me meter, de homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco.
Einstein e Newton mantêm suas poses, apenas olham para o garçom como se não esperassem por essa. E realmente não esperavam. Com os dentes mantendo o cachimbo nos lábios, Einstein pergunta pensativo e reticente:
- Bela frase... Perdão, mas quem é você?
E colocando o pano sobre o ombro direito, sorridente, o garçom responde:
- Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo.
O silêncio reinou novamente entre os três.
- Mais uma cachaça, senhor?
- Ah, sim...Por favor!
Einstein sorri. O garçom responde com outro sorriso, mais abrangente, mais puro, mais sorridente. Dá meia volta e some atrás do galpão para pegar a garrafa para poder servir o cientista. Newton ficara em silêncio olhando para o copo e, acompanhando sua circunferência úmida com o dedo indicador. Suspira, sorri e...:
- O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.
Einstein novamente sorri olhando para seu amigo sobre seus óculos fundo de garrafa.
- A mente que se abre a uma nova idéia, meu amigo, jamais voltará ao seu tamanho original... – seus olhos desencontram-se dos de Newton e sobem mais um pouco - Ah! Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito! É o Frederico que vem vindo!
Com seus passos pesados, panturrilhas de pedra, sapatos de chumbo e todo o peso do conhecimento (ou da tentativa de tentar alcançá-lo plenamente), o forasteiro para uns metros depois de entrar no bar e abre os braços aos prantos:
- E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música! Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nenhuma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada... Por uma gargalhada!
- É o Nietzsche quem chegou? –Newton se vira para responder a sua pergunta retórica.
A gargalhada soou da boca de Einstein, só cessando quando o ataque de tosse começara.
- Esse cachimbo ainda vai te matar. – abaixando a cabeça e olhando penetrantemente para Einstein, como se estivesse conseguindo ver o tumor no pulmão, Nietzsche profere.
- Bobagem! Temos o destino que merecemos. Nosso destino está de acordo com os nossos méritos. Tu que tens que te cuidar com esse cancro no cérebro.
- O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.
- Ora, isso é perfeito! Um filósofo falando tais palavras. Afinal, a verdadeira filosofia nada mais é que o estudo da morte, não é mesmo? – diz Newton.
Não houve resposta para tal pergunta, visto que o garçom chegara sempre sorridente com a garrafa de cachaça para Einstein. Com seus óculos na ponta do nariz, o careca garçom serve delicadamente e cirurgicamente a bebida no copo. Nenhuma gota foi desperdiçada. Einstein inclina-se para o copo olhando-o bem de perto com seus óculos também na ponta do nariz:
- Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e... –pausa dramática para encolher seus ombros e mostrar as palmas para o copo, como se esperasse que ele batesse sua mão. -... e eis que a verdade se me revela!
Todos admiram o único gole que seca o copo e o som da batida deste na mesa. A careta mostrando a língua é sempre a conseqüência esperada de Einstein perante tal estímulo.
- A tradição é a personalidade dos imbecis. - sentencia.
O garçom traz uma cadeira para Nietzsche acompanhar seus amigos e pergunta o que ele gostaria de beber, este agradece e senta-se. Agradece novamente e diz não ter trazido dinheiro para gastar.
- Eu posso acrescentar na tua continha, meu amigo.
- Não! – e volta-se com olhos saltando às órbitas - É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação... Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez... A si próprio?
Matheus I. Mazzochi