Um homem se despede de sua mulher.
Segura seu rosto e beija com paixão,
Depois a mala, ele tira do chão.
Chega à porta, para e volta a olhar.
Entra no ônibus, o qual vai os separar.
A mulher acena para seu homem na janela.
Ele responde sorrindo e manda um beijo para ela.
O motor ligou e o motorista manobrou.
Ao poucos, foram se distanciando,
Mas a mulher, aos poucos,
Foi do ônibus se aproximando.
[Mal sabiam
Que seria a última vez
Que seus olhos se encontrariam
E assim que se fez.]
“Eu te amo.” – Ela falou.
Um “eu te amo” mudo
Que ele não escutou
Como quase tudo.
Na rodoviária a mulher ficou.
Acenou...
Chorou...
Sonhou...
Toda vez que se olhava no espelho,
Carente,
Ela pensava em seu amado,
Até quando limpava os dentes.
Todo o dia retocava a maquiagem
Esperando-o voltar da viagem.
Preparava a comida para dois.
O bom e velho feijão com arroz.
Arrumava a cama,
Como se ele fosse voltar a qualquer momento.
Trocava as velas para reacender a chama,
A chama do tão longo sofrimento.
Como um barco velho, na praia, encalhado.
Sua vida amorosa, ela havia abandonado.
Não queria mais embarcar para navegar.
Desistiu da vida, desistiu do amar.
De dia, ficava na janela
Pensando onde estaria o homem dela.
De noite, chorava na cama...
Um choro fininho, contido, sem drama.
Deixou de viver,
Queria morrer.
A sua foto ela segurava
Toda noite que se aninhava.
E o Sol foi nascendo,
E o Sol foi morrendo,
E a Lua brilhava,
E a Lua mudava.
Uns dizem que ela virou freira;
Outros que ela morreu de saudade.
Uns, que ela nunca mais amou
Outro homem como aquele que não mais voltou.
O que eu sei é que ela abriu o armário.
Queria sair e a saia pegou.
Saiu e sambou...
Saiu sozinha e voltou com um otário.
Noutro dia, a janela estava aberta bem cedo.
O cheiro do feijão voltou a cobrir o ar.
A mulher havia vencido seu medo.
A mulher havia voltado a amar.
Eis que depois de anos ele voltou.
E, na frente de casa, suas coisas ele encontrou.
- Meu amor, estás irritadiça?
O que é isso, afinal?
- São oito anos sem notícia,
Seu besta, animal.
- Isadora, minha flor,
A viagem foi dura, cheia de dor...
- Não me venha com “Isadora, minha flor”,
Pois sou a Isabela, o teu antigo amor.
Raul Luar
Nenhum comentário:
Postar um comentário